sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mãos dadas.

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso a vida e olho meus companheiros.
Estão tarciturnos mais nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos,
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei cantor de uma mulher, de uma história,
não direi aos suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não destribuirei entorpecentes ou carta suicida,
não fugirei para ilhas nem serei raptado para sarafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

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